Foto: Luiz Henrique |
O Alecrim vive o capítulo mais triste da sua história centenária. Pela primeira vez em 102 anos de existência, o clube amarga o rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Potiguar. A queda vem após uma campanha pífia, em que somou apenas sete pontos em 14 jogos, ficando com a última posição na classificação geral.
Os motivos da queda do Alecrim são velhos problemas jamais resolvidos durante os últimos anos. A gestão atual, presidida por Osvaldo Trigueiro, sofre com dívidas e não tem poder suficiente para planejar uma equipe competitiva. O Verdão perdeu parte do grande patrimônio adquirido e neste estadual teve a folha salarial mais baixa, cerca de R$ 30 mil mensais, e, mesmo assim, sofreu para pagá-la. Prova disso, teve que encarar duas greves de jogadores por salários atrasados durante a competição. Sem um grande patrocinador e com uma torcida reduzida, o clube sobrevive à custa de fiéis torcedores que nunca o abandonaram.
- O Alecrim sobrevive por causa de um monte de 'doidos'. Porque são esses que tiram dinheiro do próprio bolso por amor ao clube - conta João Bosco Araújo, presidente do conselho do Alecrim.
Bosco esteve presente no Frasqueirão ao lado do presidente do clube, Osvaldo Trigueiro, e outros torcedores e conselheiros. Todos sabiam do improvável cenário para a permanência do time, mas não desacreditaram até o apito final. Quando a derrota se tornou realidade, a resposta de quem está à frente do Verdão foi rápida, descartando a possibilidade de licenciamento. Osvaldo Trigueiro fez questão de ressaltar que a história do clube não se encerra com o fim da participação no Campeonato Potiguar de 2017.
- Vamos dar continuidade (a história). Estamos pensando no sub-19 e no estadual feminino. Não vamos baixar a cabeça. É um mau resultado cair para a segunda divisão, mas não é o fim do mundo. Vamos sentar e reunir os conselheiros para tocar o barco para frente. Vamos reiniciar o trabalho para arrumar a casa e voltar mais forte em 2018 - declarou o presidente Osvaldo Trigueiro.
A ESPERANÇA DUROU 16 MINUTOS
A permanência na primeira divisão fugia dos próprios esforços do Alecrim e da conquista da vitória sobre o ABC. Três pontos atrás do Santa Cruz de Natal na classificação geral, o Verdão também precisava da derrota do Santa para o Potiguar de Mossoró, na Arena das Dunas. Os dois jogos começaram no mesmo horário. Era difícil entrar em campo sem a ansiedade redobrada. Para quem estava na torcida, a tarefa era acompanhar dois jogos e se agarrar à crença nos placares favoráveis.
Depois de um primeiro tempo apático e sem gols no Frasqueirão, os alecrinenses se animavam com o resultado na Arena das Dunas. O Potiguar vencia por 1 a 0.
- A gente tem que fazer o nosso gol aqui, só um golzinho. E vai ser na 'sofrência' - afirmava Eliano Faustino, torcedor do Alecrim.
Começou o segundo tempo e, aos 12 minutos, o atacante Léo Bahia, em boa jogada individual, acertou um lindo chute para abrir o placar. A torcida parecia não acreditar no que via.
Um sentimento de deslumbramento - de que daria tudo certo - pairava nas cadeiras do Frasqueirão com o placar favorável ao Alecrim. Mas durou apenas 16 minutos. Marques empatou para o ABC e aumentou a ansiedade dos torcedores do Verdão. "Quanto tempo falta? O Potiguar ainda está vencendo o Santa Cruz. Ainda dá", tentava se animar o torcedor mais otimista. Mas veio a virada do ABC aos 41 minutos, o apito final do árbitro e a queda se tornou mais real do que nunca. A reação foi de ira para alguns e tristeza para outros.
O torcedor Carlos Nascimento se mostrou resignado. Questionado sobre a sensação do rebaixamento, resumiu a persistência de ser torcedor do Alecrim apesar de todas as adversidades enfrentadas há anos.
- Ser alecrinense é algo de muita personalidade. Alguns torcem para o time da mídia, o time da moda. Mas o alecrinense não. Ser alecrinense é algo de autonomia e independência política, cultural e ideológica. Isso nunca vai morrer - disse.
A derrota para o ABC na última quarta-feira foi só o ponto final deste capítulo. Destaque da equipe, o atacante Léo Bahia, artilheiro da competição com oito gols, saiu de campo chorando e teve o apoio dos companheiros. O sentimento de tristeza imperou sobre a felicidade dos méritos particulares.
- Foi difícil para mim e para todo mundo. Eu fico feliz de ter sido artilheiro, mas muito triste pelo que aconteceu. O Alecrim é um time grande. Era uma final para nós. A gente lutou, deu o melhor, mas não deu para nós. É só tristeza agora - declarou o jogador, muito emocionado.
* Estagiário sob a supervisão de Augusto César Gomes.
FONTE : GloboEsporte.com/RN
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