A mesma garra que demonstra para desarmar adversários nos jogos do Fluminense, Edson precisou ter para vencer na vida. Antes de vestir a camisa 8 do Tricolor e ser um xodó da torcida, trabalhou como auxiliar de pedreiro, em padaria, fazenda.... Viu muitos dos seus amigos de sua cidade natal, Touros-RN, e até um dos irmãos se envolver com drogas, mas optou por investir no sonho de ser jogador. Vingou. E virou o "Vingador", como é chamado no interior do Rio Grande do Norte.
- (O apelido) Começou ainda na época do ABC, por causa daquele desenho "Caverna do Dragão" que tem o Vingador. A torcida do ABC também me chamava de "Cavalo" por causa da força. Eu não ligo para os apelidos não. Fico tranquilo - disse Edson.
O caminho até o Flu teve um início com muitas dificuldades no ABC-RN até se profissionalizar e ter passagens por Cabofriense, Atlético, Grêmio, Treze-PB e São Bernardo-SP. Hoje, ele começa a colher os frutos de seu trabalho. Deseja voos mais altos após realizar o sonho de comprar sua casa e da família no Rio Grande do Norte.
No topo de lista de desejos de Edson está o título do Campeonato Brasileiro.
Confira a entrevista completa com o volante:
GloboEsporte.com: Como foi sua infância? Teve alguma atividade antes de iniciar sua trajetória no futebol?
Edson: Eu sempre ajudei de tudo um pouco. Já trabalhei em fazenda, padaria, como ajudante de pedreiro... Logo antes de eu ir para o ABC, estava na padaria. Ajudava a ensacar bolachas, essas coisas... Era moleque, não ganhava praticamente nada. Depois surgiu o convite para fazer o teste no ABC. Fiz, passei e fiquei. Mas acho que tive uma boa infância, guardo até hoje os amigos daquela época. Lá na minha cidade me sinto bem. Sei que nunca vão me abandonar, eles me admiram muito.
Você testemunhou muitos problemas sociais na vizinhança em que cresceu?
- O bairro que eu morava tinha violência e sofria muito preconceito também. Até hoje amigos meus são envolvidos com drogas, falo sem medo nenhum. Até um irmão meu é envolvido, mas nunca precisou roubar ou enganar ninguém. Trabalha e sustenta o vício. As pessoas tinham receio de andar lá onde morávamos, mas depois ficavam com uma impressão melhor. Os meus amigos são os mesmos de antes, independente se são viciados ou não. Para mim não importa. Não é porque uma pessoa faz mal para ela mesmo que deve ser abandonada. Quando vou lá, faço questão que todos estejam presentes.
Como foi sair de Touros e ir morar em Natal para jogar na base do ABC? Foi sozinho? Passou dificuldades?
- A ida foi complicada, porque eu sempre tinha morado com meus pais. Logo que cheguei no ABC, não tinha vaga no alojamento. Um primo meu que ofereceu de ficar na casa dele. Fiquei mais ou menos um ano na casa dele até que apareceu a vaga no alojamento. Antes, tinha que sair três horas antes do treino para conseguir chegar em tempo. A ida para o alojamento facilitou no meu descanso. Fiquei no CT acho que uns três anos. As coisas foram acontecendo, dando certo.
Conseguia ir para Touros com regularidade para visitar sua numerosa família?
- Eu ia quase todo fim de semana para o interior. Tinha um pessoal que me ajudava. Um vereador da minha cidade mandava um carro ou passagem para eu poder ir e voltar. Minha família é bastante grande, tenho oito irmãos. Muito bom chegar lá e receber o carinho de todos.
Você se tornou então uma grande atração em sua cidade quando começou a ter sucesso no futebol...
- Nunca teve um jogador em um grande clube vindo da minha cidade, e é complicado de acontecer de ter outro. Tenho um primo que jogou profissionalmente e chegou a defender o América-RN, que para o resto do Brasil não é uma grande equipe, com todo respeito. Então, sou o único. Fazem muita festa quando vou lá. Tem um primo meu que é fã número 1. Cada gol que faço, fazem adesivo e saem distribuindo para colocarem em carros e motos. Ele desenha bem e fez na parede lá de casa uma foto minha e escrito "Edson, o Vingador". Tem ainda fotos e clubes dos clubes onde passei.
Como surgiu este apelido "Vingador"?
- Começou ainda na época do ABC, por causa daquele desenho "Caverna do Dragão" que tem o Vingador. A torcida do ABC também me chamava de "Cavalo" por causa da força. Eu não ligo para os apelidos não. Fico tranquilo.
Qual primeiro sonho você conseguiu realizar quando passou a ter um salário melhor?
- Eu queria ter uma casa minha. Comecei em 2010 e não ganhava um alto salário, aí comecei a cosntruir aos poucos. A casa da minha mãe era muito humilde, e eu tinha isso na cabeça de dar uma casa para os meus pais. Quando eu estava no São Bernardo-SP, já ganhava melhor e pude dar a eles. Ficaram maravilhados, agradeceram muito. Não é todo filho que faz isso, até os vizinhos ficaram admirando. Família é tudo na vida.
Como foi a mudança em sua vida ao chegar no Rio de Janeiro. Por que escolheu morar em Copacabana?
- Copacabana todo mundo que não é do Rio de Janeiro quer conhecer. Eu não ligo tanto, já tinha vindo ao Rio, mas para o pessoal lá às vezes nem acredita. Esse vereador que me ajudou veio aqui visitar e ficou impressionado com a beleza. Saí de um estado pequeno do nordeste e vim para o Rio de Janeiro, que dá uma dimensão muito grande. A cidade oferece muitas coisas e se não tiver a cabeça boa, se perde. Eu sei o que quero e sei o que eu posso e não posso.
O que gosta de fazer nas horas vagas? Aproveita tudo o que a cidade pode oferecer?
- Sou pouco de ver TV, às vezes os jogos da Série A e B eu assisto. Quando estou de folga, de vez em quando vou na praia, passeio na orla. Mas não vou muito, devo ter ido umas dez vezes na praia só. Sou bem reservado.
E na cozinha? Ser vira? Qual prato preferido?
- Não sei fazer nada. Faço um miojo e olhe lá. Agora, eu não abro mão de comer um feijão e um macarrão. Pode ter o banquete que foi que já vou direto no feijão e no macarrão.
E a nutricionista do Fluminense (Renata Faro) libera?
- Ela libera sim, é uma pessoa maravilhosa. Até porque nunca tive problema de peso, aí facilita. Às vezes até brincamos com ela quando tira uma sobremesa. Dizemos que quando acontece isso não sai gol no jogo. Isso deixa o ambiente leve.
E na parte musical, o que te agrada? O forró nordestino?
- Lá tem muito forró, né. Mas eu gosto bastante de gospel. Não só isso. Gosto bastante do cantor Péricles, queria ir a um show dele um dia. Eu só não gosto muito de hip-hop, rap e aquele que o pessoal se veste de preto, o rock.
Dentro de campo, tem algum jogador em especial que você se espelha?
Foto: Arquivo Pessoal |
- Tem alguns jogadores que admiro. O Gilberto Silva acho que fez um grande trabalho na Seleção, gosto bastante dele. O próprio Ronaldinho Gaúcho. Admiro desde moleque, acordava de madrugada para vê-lo jogar na Copa do Mundo (de 2002). Ronaldo Fenômeno, Lúcio... são muitos. No Fluminense tem o Fred, Jean, Pierre, Cavalieri... Procuro ouvir e tirar o melhor para aprender todo dia alguma coisa.
Depois da chegada do Ronaldinho o pessoal de Touros fez muitas encomendas de camisas, fotos, autógrafos...?
- Sempre tem um pedido. Mas não gosto muito não, apesar de entender o lado das pessoas. Às vezes pedem para falar com Ronaldinho e Fred no whatsapp, pedem para entregar carta, pedir foto, autógrafo. Sou muito profissional. Não gosto de perturbar não, ficar pedindo coisas. Acho antiético. Depois vão falar que sou chato, e isso é ruim. Quando me pedem já explico.
Qual seu amigo mais próximo no atual elenco do Flu?
- O mais próximo é o Renato, porque tínhamos jogado junto no ABC e criamos uma amizade de irmãos mesmo. Mas me deu bem com todos. Além do Renato, o Lucas Gomes também é muito próximo. Mas converso com Fred, Henrique, Ronaldinho, Gustavo Scarpa, Marlon, Higor Leite... não tem ninguém que eu não goste. O ambiente é muito bom.
No início deste ano, o processo de renovação de contrato - três anos - o deixou ansioso. Chegou a imaginar que não seguiria nas Laranjeiras?
- Eu fiquei ansioso, mas eles tinham deixado claro que iam renovar. Fizeram tudo certo, mas o tempo passava e eu não tinha assinado ainda. Ficava naquela... Até uma, duas semanas antes eu não entendia a demora. Mas aí meu empresário me explicou. Mesmo assim eu ficava ansioso, apesar de saber que se eu sair do Fluminense hoje tenho algum outro grande clube para jogar.
O Corinthians chegou a tentar sua contratação...
- Eu estive para sair para o Corinthians duas vezes. Meu desejo era continuar por muito tempo. Tento fazer meu trabalho da melhor forma possível, mas se um dia a diretoria achar melhor, podemos conversar, tranquilo. Mas eles sempre me disseram que queriam renovar. Eu só precisava de uma certeza. Depois, fiquei aliviado.
Qual sua expectativa para o restante do Brasileiro? A torcida acredita que é possível lutar pelo título, e o time?
Foto: Nelson Perez / Fluminense |
- A gente pede que a torcida sempre vá no estádio como tem feito nos últimos jogos no Maracanã. É fundamental. Não vejo nenhum outro time acima de nós. O que está faltando é fazer o que fizemos no início, uma boa sequência de vitórias e melhorar os resultados fora de casa. Temos um elenco muito qualificado, com jogadores que sabem o caminho de serem campeões. Com a torcida ao lado do time, a probabilidade de vitória é muito grande. As coisas tendem a acontecer mais fácil. Vamos fazer de tudo para buscar esse título. Esperamos no dia 7 de dezembro comemorar esse título.
FONTE: GloboEsporte.com/RN
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